segunda-feira, 18 de maio de 2009

História dos Efeitos Especiais


Um homem está sentado em uma pequena cabine sanitária. Lá fora, além da chuva, há um Tiranossauro Rex descontrolado, farejando carne fresca para devorar. Quando ele encontra o homem - que fica minúsculo ao lado do dinossauro gigante -, abocanha sua cabeça de modo que nós, espectadores, só podemos ver as perninhas da vítima balançando. A cena, exibida nos cinemas em 1993, é a de Parque dos Dinossauros. Dirigido por Steven Spielberg, o filme, que levou três Oscars no ano seguinte (Melhor Efeitos Visuais, Melhor Som e Melhor Efeito Sonoro), é um belo exemplo de como a tecnologia pôde contribuir ao mundo do cinema.Os efeitos visuais são as formas que os cineastas encontraram para familiarizar o espectador ao filme, fazendo modificações na realidade para criar sensações diferenciadas naquele que está na poltrona. Eles podem ser usados não somente para trazer os dinossauros à época contemporânea (Parque dos Dinossauros) ou fazer pessoas lutarem em câmera lenda (Matrix, Oscars em 2000 de Montagem, Efeitos Sonoros, Visuais e Som), por exemplo. Eles também podem ser usados para tarefas mais simples, como definir cenários, salientar ambientes, embelezar produções e tornar a ambientação de um filme mais real.


UM MÁGICO NO CINEMA

O nascimento dos efeitos especiais no cinema aconteceu na virada do século 20. Alguns consideram o mágico (literalmente) francês George Méliès como o pai desta arte. Foi ele que começou a usar miniaturas mecânicas, fundos pintados e múltiplas exposições para iludir o espectador, criando técnicas que ainda são utilizadas atualmente pelos cineastas. Tudo começou em 1895, quando Méliès assistiu à primeira projeção cinematográfica. O mágico logo montou sua primeira câmera, com a qual criou uma das técnicas mais usadas pelos cineastas até hoje: o stop motion que, como a maioria das invenções geniais da humanidade, foi descoberto a partir de um acidente. Quando Méliès filmava em Paris, sua câmera travou de repente. Enquanto tentava fazer a máquina funcionar, claro que a movimentação na rua continuou. Quando ele conferiu o que havia sido gravado, percebeu que o corte repentino na gravação dava a impressão que os carros tinham se transformado em cavalos e os homens em mulheres. Mas isso era só o começo: empolgado com as mágicas que poderia fazer nos filmes, o francês montou, no jardim da própria casa, o primeiro estúdio de efeitos especiais de que se tem notícia.

E A FORÇA FOI PARA GEORGE LUCAS
Naves espaciais cortando as estrelas. Sabres de luz. Uma criatura que mais parece um monte de barro soltando grunhidos. Tudo isso faz parte da série de filmes responsável por uma verdadeira revolução em se tratando de efeitos especiais na telona. Foi quando o mundo assistiu a Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança, em 1977. Os efeitos que hoje podem parecer bastante comuns, ou até mesmo toscos, significaram uma verdadeira revolução na década de 70. Além de dinheiro, fama e um lugar na história do cinema, George Lucas ainda angariou seis Oscars por este filme, incluindo o de Efeitos Visuais e Som. Foi depois de Star Wars que Lucas criou a Industrial Light & Magic, a mais famosa empresa de efeitos visuais do mundo - sempre envolvida com os indicados e ganhadores do Oscar nessas categorias mais "técnicas". Desde então, a indústria passou a escrever a história dos efeitos visuais e, claro, do próprio cinema.


Foi a empresa de George Lucas que implantou, pela primeira vez, um pólo de desenvolvimento de softwares que ajudariam nos efeitos especiais. Em 1979, foi criado o departamento de informática dentro da Industrial Light & Magic. Desde então, o computador - graças também à evolução da tecnologia - tornou-se o principal aliado do homem na busca pela perfeição de seus sonhos no cinema.Em 1982, a empresa foi responsável pela criação da primeira seqüência totalmente gerada por computador. Foi em Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan e, apesar de não ter sido indicado ao Oscar, valeu à empresa de George Lucas o título de "a primeira a fazer uma cena totalmente digital" - isso se houvesse algum tipo de "corrida" para os pioneiros dos efeitos especiais no cinema. Em 1985, a empresa era capaz não somente de levar às telas uma cena completamente feita no computador, mas também um personagem inteiro.

Em O Enigma da Pirâmide, na cena em que o cavaleiro surge de um vitral, o que você vê é o primeiro personagem feito totalmente em computador - efeito que rendeu à equipe uma indicação ao Oscar de Efeitos Especiais. É também creditada à Industrial Light & Magic a primeira seqüência de transformação do cinema, criada com um software chamado Morf. Este tipo de cena é daquelas que um objeto é transformado em outro, como quando a Mística de X-Men usa seu poder de metamorfose. Mas o filme do qual estamos falando é outro: Willow na Terra da Magia, de 1988, indicado ao Oscar de Melhor Efeitos Visuais e Sonoros.Para se ter uma idéia de como a Industrial Light & Magic contribuiu para a evolução dos efeitos especiais aplicados nos filmes, em 1993 - 16 anos após sua criação -, a empresa ganhou seu 12º Oscar (por A Morte lhe Cai Bem) e ainda ficou marcada por ser responsável pela primeira vez que o tecido humano foi totalmente digitalizado. Inclusive, a cena descrita na introdução desta matéria, a de Parque dos Dinossauros, também foi feita pela empresa de Lucas.Até 1994, a Industrial Light & Magic teve presença marcada no Oscar, geralmente levando a estatueta para casa. Em 1995, um porquinho falante tirou a força de George Lucas e mostrou ao mundo do cinema que outras empresas, e até países, também andam pensando bastante em como tornar as loucas idéias de alguns cineastas mais reais possíveis. Em 2006, Star Wars: Episódio III – A Vingança dos Sith, último episódio da série idealizada por Lucas, está novamente entre os indicados ao Oscar, desta vez na categoria de Melhor Maquiagem.
O Outro Lado da Força
Está na Austrália o outro nome que mudou a história dos efeitos especiais no cinema. A empresa Animal Logic, responsável pelos efeitos especiais de Babe, Um Porquinho Atrapalhado, ganhou em 1996 o Oscar de Efeitos Visuais, colocando seu nome na boca do povo, literalmente. Desde então, a empresa australiana - que também produz filmes publicitários e trabalhos para a TV - está nos créditos de filmes como a trilogia Matrix e O Senhor dos Anéis.Em 1999, uma história que misturava filosofia, religião, pancadaria e um banho de efeitos especiais chegou às telas. Matrix, além de apresentar ao mundo o sobrenome dos irmãos Wachowski, revolucionou completamente os conceitos em efeitos especiais. A inspiração é simples: animes (desenhos animados japoneses, muitos com mais ação do que alguns filmes de Jean-Claude Van Damme) e filmes de kung fu.


A diferença é que os Wachowski colocaram ação e desafiaram as leis da gravidade, fazendo seus heróis voarem, saltarem e subirem pelas paredes - literalmente - graças aos computadores. Isso sem contar o uso do congelamento do tempo, como é chamado o efeito que faz com que objetos em movimento (como balas de armas) congelem enquanto que a câmera faz um giro completo ao seu redor. Além de ter sido uma inovação no cinema, o efeito fez escola: em 2002, chegou a se contabilizar mais de 20 filmes que utilizaram essa técnica.Portanto, se Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança significou uma revolução no cinema na década de 70 por conta de seus efeitos especiais, podemos dizer que, no final dos anos 90, Matrix foi o filme que deu uma estremecida no mundo cinematográfico, reciclando e inovando tudo que já tínhamos visto nas telonas. Até surgir O Senhor dos Anéis, uma das trilogias mais ambiciosas da história do cinema contemporâneo.
QUANTO MAIOR, MELHOR

Ambição: essa é a palavra-chave para quem quer fazer um filme cheio de efeitos especiais. Afinal, a imaginação do diretor é o limite para o trabalho feito em um filme nessa área. Desde que George Lucas conseguiu colocar naves cortando o espaço, todo mundo percebeu que os limites passaram a ficar cada vez menores. Daí em diante, a busca por soluções que dessem mais realismo aos filmes fez com que o desenvolvimento da indústria dos efeitos visuais desse um salto vertiginoso.O cineasta Peter Jackson e sua empresa, a Weta Ltd., são os que deram vida a O Senhor Dos Anéis, trilogia baseada em obra do escritor inglês J.R.R. Tolkien. Ambos são responsáveis não somente porque seu diretor é dono da empresa que fez os efeitos especiais do filme, mas também porque o computador e tudo que ele pode fazer pelo cinema foram os grandes responsáveis pelo espetáculo visual que Tolkien deve ter imaginado para escrever sua obra-prima.A empresa, que existe há 14 anos, é dividida em dois departamentos: a Weta Digital e Workshop. A primeira é responsável pelos efeitos digitais dos filmes, enquanto que a segunda passou a cuidar da criação das peças e dos sets - basicamente, toda a parte física, algo similar às oficinas de truques tão famosas até a década de 50 (saiba mais sobre os efeitos especiais de O Senhor dos Anéis). Os efeitos especiais e as técnicas criadas para a trilogia marcaram para sempre a forma de se fazer cinema, transformando a Weta em referência não somente na Nova Zelândia, mas em todo o mundo. Depois de todo esse sucesso, as 23 indicações ao Oscar em categorias que envolvem Efeitos Especiais, Som e Direção de Arte, além dos US$ 1,8 trilhões faturados pelos dois filmes lançados até agora, quem segura Peter Jackson e sua Weta? Parece que ninguém. Tanto que, em 2006, King Kong recebeu três Oscars nas categorias de efeitos visuais, de resposabilidade da Weta: Edição de Som, Efeitos Sonoros e Efeitos Visuais. O filme também concorreu em Direção de Arte.Claro que à medida que os efeitos especiais se tornam cada vez mais importantes em Hollywood, as críticas crescem proporcionalmente. Afinal, muitos juram que outros fatores mais "artísticos" dos filmes, como roteiro, fotografia, direção e os próprios atores, passam a ficar em segundo plano em substituição à grandiosidade dos efeitos especiais. O debate rende, já que o risco existe, mas não em todos os casos. Os efeitos são para aperfeiçoar a técnica de se fazer cinema, criando climas e situações que não seriam conseguidos se o diretor ficasse somente no jargão de Glauber Rocha, "uma idéia na cabeça e uma câmera na mão". Como você vê, a tecnologia e seu desenvolvimento ao longo dos anos só fizeram com que nós, espectadores, pudéssemos ser cada vez mais envolvidos pela tal da magia do cinema. Se o objetivo deste também é levar o espectador a um mundo de fantasias, fazendo com que ele se sinta inserido no que vê na tela, é graças aos efeitos visuais que essa mágica é possível.



"VOCÊ AINDA NÃO OUVIU NADA”

O Cantor de Jazz ficou marcado como o primeiro filme do cinema que teve um diálogo audível. "Você ainda não ouviu nada" foi a frase e, de fato, o cinema ainda teve muito a proporcionar ao espectador em termos de som - que o digam os ganhadores do Oscar de Efeitos Sonoros durante os 41 anos da premiação. A categoria de Efeitos Sonoros sempre foi "englobada" pela de Efeitos Especiais (que existe desde 1939). Somente em 1963 a Academia percebeu que seria justo premiar separadamente os "mágicos" responsáveis pela imagem e pelo som dos filmes. Foi quando a categoria Melhor Efeitos Sonoros foi criada, passando a ser independente dos efeitos especiais - que, na verdade, passou a entrar na recém-criada categoria Efeitos Visuais. Walter G. Elliot ficou marcado na história do Oscar como o primeiro a ganhar a estatueta nessa nova categoria com Deu a Louca no Mundo.


EFEITOS SONOROS
O pessoal que trabalha com cinema costuma dividir os efeitos sonoros em quatro categorias: Foley, sons desenhados, sons de criaturas e sons ambiente.Os sons Foley receberam este nome graças ao seu inventor, Jack Foley, que desenvolveu a técnica de reproduzir os passos de um ator no filme O Fantasma da Ópera, em 1925. Foi quando ele percebeu que ter somente o diálogo dos atores, sem efeito sonoro, tornava o filme muito sem graça - afinal, na vida real, nós também somos bombardeados por outros estímulos sonoros além de nossas conversas. O que Foley fez foi criar um palco especial para a captação e gravação dos passos de uma pessoa.
Daí a técnica passou a ser aplicada em outros tipos de barulhos, como o feito pelo tecido ao movimentar do corpo ou mesmo a interação do personagem com algum elemento do cenário.Os efeitos desenhados, ou construídos, são os sons que não existem na vida real - muito comuns em produções de ficção científica. Por exemplo, em
Exterminador do Futuro 2, nas cenas em que o corpo do ciborgue do mal T-1000 (Robert Patrick) - no filme, feito de uma liga de metal líquido que não existe na vida real - muda de forma, derretendo e se transformando em outros objetos, a produção utilizou o barulho do milk-shake borbulhando para ilustrar sonoramente essas passagens. Inclusive, este filme ganhou quatro Oscars: Melhor Efeitos Sonoros, Melhor Efeitos Visuais, Melhor Som e Melhor Maquiagem.
Os efeitos desenhados, no entanto, são diferentes dos sons de criaturas. Eles foram criados para que o espectador tivesse uma ligação emocional com os monstrinhos que apareciam nas telonas. Quem nunca se emocionou com o protagonista de
E.T. - O Extraterrestre (1982)? Você acha que a emoção seria a mesma se o extraterrestre fosse mudo? Provavelmente não e a Academia deve ter pensado o mesmo, já que premiou o clássico dirigido por Steven Spielberg por Melhor Efeitos Sonoros, Melhor Efeitos Visuais e Melhor Som, além de Melhor Trilha Sonora. Já o efeito de ambiente é exatamente isso que o nome já diz: ele traduz ao espectador o som do universo do filme. Basicamente, o papel dos efeitos sonoros é a de envolver o espectador à trama, criando o clima para que ele se sinta dentro daquela cena, como se fosse um complemento perfeito ao que vemos na telona. É como se, enquanto as imagens nos englobam visualmente, o som que sai das caixas - não a trilha sonora, mas sim da ação que se passa na tela - nos embalasse de tal forma que o filme, por mais fantasioso que seja, se tornasse realidade durante aquelas duas horas que passamos no cinema. Por isso, imagem e som, em um filme, são como o arroz e o feijão: complementares.

CRONOLOGIA

1886 - George Méliès, pai dos efeitos especiais, dirige seu primeiro curta-metragem, Le Manoir Du Diable.

1902 - Lançamento de A Viagem à Lua, ficção científica dirigida por George Méliès com efeitos especiais revolucionários para a época.

1920 - Os grandes estúdios norte-americanos passam a manter departamentos de efeitos especiais.

1977 - É lançado nos cinemas Star Wars: Episódio IV - Uma Nova Esperança, de George Lucas, filme que revolucionou os efeitos especiais no cinema. No mesmo ano, Lucas fundou a Industrial Light & Magic.

1979 - Foi criado o departamento de informática dentro da Industrial Light & Magic.

1980 - É fundada a empresa Weta Ltd. que, mais tarde, ganha fama ao fazer os efeitos de O Senhor dos Anéis.

1982 - A Industrial Light & Magic cria a primeira seqüência totalmente gerada por computador em Jornada nas Estrelas II - A Ira de Khan.

1985 - A empresa de George Lucas cria o primeiro personagem totalmente digital do cinema em O Enigma da Pirâmide.

1988 - O software Morf - que possibilita a transformação de um objeto em outro nos filmes - é usado pela primeira vez em Willow na Terra da Magia.

1993 - Em A Morte lhe Cai Bem, o tecido humano é totalmente digitalizado por um efeito visual pela primeira vez.

1995 - Babe, Um Porquinho Atrapalhado ganha o Oscar de Efeitos Visuais, chamando a atenção para a empresa australiana Animal Logic.

1999 - Matrix chega aos cinemas, revolucionando os conceitos de efeitos visuais.

2001 - Estréia O Senhor dos Anéis: A Sociedade do Anel, apresentando mais uma empresa forte no ramo dos efeitos especiais, a Weta, de Peter Jackson.

2004 - Consagração no Oscar de um filme calcado em efeitos digitais. O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei é agraciado com nada menos do que 11 Oscars, igualando-se a ...E O Vento Levou e Ben Hur na lista dos mais premiados pela Academia.

Fonte: http://cinema.cineclick.uol.com.br/especiais/hotsites/2009/oscar/especial.php?id=4

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